Golpe de Bolsonaro teria mais resistência e vítimas que o de 1964, avaliam especialistas
Nos momentos que antecederam a decisão de tornar réu o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), acusado de golpe de Estado, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio Dino protagonizou uma daquelas cenas momentosas, comuns em julgamentos televisionados em rede nacional. Em seu voto, comparou as tramas antidemocráticas que culminaram no ataque aos três Poderes à ditadura militar, deflagrada há 61 anos. “Dizem que, em 1º de abril de 1964, não morreu ninguém. Golpe de Estado mata, não importa se é no dia ou anos depois”, disse o ministro.
A comparação de Dino deu espaço para o antigo mito de que o golpe fora dado, seis décadas atrás, sem o uso de violência, e suscita agora um questionamento sobre como seria o dia 16 de dezembro de 2022, a data seguinte à Operação Punhal Verde Amarelo, que, segundo as investigações da Polícia Federal (PF), planejou assassinar o presidente Lula (PT), o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro do STF Alexandre de Moraes. Se o plano fosse consumado, um golpe para impedir o terceiro mandato do petista desencadearia um cenário ainda mais grave do que o de 1964, com mais mortes, sublevações populares, crise econômica e descrédito internacional, avaliam acadêmicos.
“Haveria confronto direto com a sociedade e mais mortes”, afirma João Roberto Martins Filho, professor da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) e autor do livro “Os Militares e A Crise Brasileira”.